A palavra LIT-URGIA vem da língua grega: Laos = povo, e Ergon = ação, trabalho, serviço, ofício... Unindo os dois termos que formam a palavra, encontramos a raiz mais profunda do significado da LITURGIA, ou seja: AÇÃO, trabalho, serviço do povo e realizado em benefício do povo, isto é: um serviço público, como dizemos hoje.
Antes mesmo de esta palavra ser usada pela Igreja, os gregos a usavam para indicar qualquer trabalho realizado a favor do povo e sempre realizado pelo povo, em forma de mutirão, como temos hoje. Então quando abriam uma estrada, ou construíam uma ponte ou realizavam qualquer trabalho que trouxesse benefício à população, entre os gregos se dizia: realizamos uma liturgia.
Este sentido primeiro da palavra nos ajuda a buscar o que deve ser hoje a LITURGIA CRISTÃ em nossas comunidades, sobretudo depois de séculos de história em que a Liturgia ficou reduzida a uma ação realizada por ministros ordenados (bispo, padre...) para o povo. Era uma ação em que o povo não tomava parte, apenas “assistia” como expectador e, muitas vezes, sem compreender o que estava sendo feito.
Graças ao Concílio Vaticano II, realizado há quase cinquenta anos, voltamos ao sentido genuíno da Liturgia, como AÇÃO do povo batizado e, por isso todo ele SACERDOTAL, chamado ao louvor de Deus e à transformação e santificação da vida e da história. Uma ação conjunta em parceria com o próprio Deus, numa dinâmica de aliança e participação cada vez mais “ativa, consciente, plena e frutuosa”.
Mas de que Ação se trata? Que trabalho é este que podemos considerá-lo “fonte e cume” de nosso ser e de nosso agir cristão?
Contemplando com o olhar da fé nossa história, constatamos que Deus se manifesta sempre agindo amorosamente e sua ação é permanente SERVIÇO À VDA, um bem que atinge toda a humanidade e todo o cosmo. É sempre ação criadora, libertadora, transformadora e santificadora que, não só nos atinge, mas nos envolve e nos torna agentes, participantes desta sua ação, numa aliança de amor e compromisso.
A maneira mais concreta, perfeita e plena de Deus agir a nosso favor foi através de Jesus, o Verbo encarnado, o Filho amado que se fez irmão e servidor (liturgo) com sua encarnação, vida, paixão e principalmente pela sua morte e ressurreição. E mais, entregou-nos sua força, energia divina, seu Espírito, pelo qual nos faz capazes de AGIR também como filhos/as amados de Deus Pai, realizando e continuando com Ele esta ação libertadora, rendentora a serviço de vida abundante para todos e seu Reino se estabeleça definitivamente.
Portanto, o sentido mais amplo da palavra Liturgia é toda a ação realizada por Deus, em Jesus Cristo e, através do seu Espírito em nós e através de nós a toda a humanidade.
*Maria de Lourdes Zavarez, é leiga, liturgista, membro da equipe de articulação nacional da Rede Celebra. (Fonte: Liturgia em Mutirão I, Edições CNBB, Brasília, 2007)
Perguntas para a reflexão pessoal e em grupos:
1) O que é mesmo Liturgia, em seu sentido amplo?
2) Liste ações, acontecimentos da realidade pessoal, comunitária e social em que hoje podemos identificar a Liturgia-vida, a ação de Deus acontecendo.
3) O que estes fatos tem a ver com as celebrações que são realizadas em nossas comunidades?
Equipe de Liturgia
Circular 02/2010
Assunto: Orientações litúrgico-pastorais para o Ciclo Pascal.
01. No tempo da Quaresma não se ornamenta o altar com flores.
02. A cor litúrgica é a roxa. Pode ser usada a cor rósea no Domingo Laetare – quarto Domingo da Quaresma, “próximo ao grande dia”.
03. Quarta Feira de Cinzas e Sexta Feira Santa são dias de JEJUM e ABSTINÊNCIAEconomia e Vida, e o lemaVocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6,24). A verdadeira conversão implica em justiça e solidariedade na relação entre as pessoas e nas circunstancias concretas da vida, hoje tão ameaçada. Toda Quaresma, é caminho Pascal. : . (Cf. as orientações no Diretório para a Liturgia). É preciso sempre lembrar ao povo, o verdadeiro sentido desses exercícios quaresmais, unidos à oração e ao silêncio. Assumidos e exercidos livremente, alavancam a nossa preparação para a Páscoa. Retomar a importância do gesto da imposição das cinzas, feitas com ramos de oliveira, outras plantas e palmas, bentas no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, como sinal do desejo sincero de conversão. As cinzas que sobraram podem fazer parte da procissão das ofertas e no final da celebração, levadas para as pessoas que não puderam participar. Articular a Quaresma e a Campanha da Fraternidade com o tema:
04. Na Quaresma, omitem-se o canto do Glória e o Aleluia.
05. A organização do espaço litúrgico e todas as celebrações devem apontar para o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É nesse contexto que devemos situar a Quaresma. Sobriedade e despojamento são fundamentais. A Cruz, o Altar, o Ambão, a Cadeira Presidencial a Pia Batismal devem ganhar destaque. O cartaz da CF, sinalizando o tema e o lema de 2009 deve estar em lugar visível. A cada Domingo, a Cruz poderá ser enriquecida com símbolos ou gestos ligados aos Textos Bíblicos ou ao tema da CF. Moderar a altura dos instrumentos. Eles têm a finalidade de sustentar o canto. O uso das baterias tem feito muito barulho e prestado um desserviço à liturgia. Não usá-las, sobretudo, no tempo da quaresma seria salutar. Durante a Quaresma, valorizar o Ato Penitencial, usando a criatividade (ajoelhar-se, inclinar-se, aspersão do povo...). Embora não tenha a força de sacramento, o mesmo propicia a experiência da misericórdia de Deus, apelo à conversão e disposição interior para participação na celebração eucarística.
06. Onde houver o costume de entronizar a Palavra de Deus, lembro que a mesma (no Lecionário) deve ser levada na procissão de entrada com a Cruz e as velas. É fundamental a preparação dos leitores, para que a Palavra de Deus seja proclamada, acolhida e compreendida por todos, não simplesmente lida, e às vezes, muito mal. Um breve silêncio entre as leituras e após a homilia permite que o diálogo amoroso entre Deus e o seu povo atinja mais profundamente cada pessoa. É preciso investir na formação dos leitores.
07. Aproveitar a Quaresma para a preparação próxima aos sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia. Que membros da Comunidade, que fizeram as etapas, possam recebê-los na noite da Páscoa. Utilizar o itinerário proposto pelo Rito da Iniciação Cristã dos Adultos – RICA.
08. O segredo da preparação da homilia e da celebração está no trabalho e no esforço da equipe litúrgica, num clima orante, na gratuidade, congregada pelo amor à liturgia e à comunidade, desafiada a preparar celebrações vivas, participadas, criativas, piedosas, alegres e cheias de Deus.
A Homilia na Celebração Eucarística seja proferida pelo Padre, articulando a proposta da Palavra de Deus de cada Domingo, com a CF.
09. A Oração da CF pode ser feita no lugar das Preces dos Fiéis ou após a oração pós -comunhão.
10. Cantos, refrões, louvações, expressem o mistério celebrado no tempo litúrgico. Dar importância ao canto do Salmo que, como parte constitutiva da Liturgia da Palavra deve ser recitado ou cantado do Ambão ou Mesa da Palavra.
Atenção: Consultar o Hinário Litúrgico da CNBB, volume II e o CD da Quaresma e CF de 2010. Todo o povo deve cantar a Liturgia, e não apenas um grupo de privilegiados. Na Quaresma é oportuno usar as orações eucarísticas da Reconciliação, mais indicadas para esse tempo, não esquecendo os prefácios próprios que são de uma densidade pascal muito grande. Toda a Comunidade Eclesial deve ser esclarecida e motivada, desde o começo da Quaresma, para o gesto concreto da Campanha da Fraternidade. São muitos os modos de penitência, partilha e solidariedade, que podem colaborar para que a Igreja em todo o Brasil continue concretizando projetos de ação evangelizadora e social, sobretudo nas regiões mais carentes. Este ano a CF reflete sobre a urgência de um modelo econômico que esteja a serviço da vida e do bem comum. É a dimensão comunitária e social da Quaresma. Todos devem receber o envelope no final da Quaresma e devolvê-lo no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, dia 28 de março com a oferta, fruto da penitência quaresmal. Nenhuma Paróquia ou Comunidade pode omitir-se. Atenção: a contribuição que muitas de nossas Paróquias recebem da ADVENIAT é fruto da oferta de muitos cristãos generosos e simples trabalhadores, mas comprometidos com a Igreja e seus projetos sociais.
11. Disponibilizar horários para ouvir os fiéis em confissão. É meu desejo que haja
mutirão para as confissões nas Paróquias das Foranias.
12. Incentivar a Quaresma e a CF em Família. No subsídio - CF em Família,encontra-se a Via Sacra, um dos exercícios espirituais privilegiados para esse tempo.
13. A CF precisa acontecer também fora dos ambientes eclesiais. É preciso empenho para que a mesma aconteça junto às Escolas, Ambientes de Trabalho, nos Meios de Comunicação Social, Centros de Poder e de Decisão, Grupos da Sociedade e, onde for possível, junto a irmãos de outras Igrejas Cristãs, etc., sobretudo este ano, por ser Ecumênica.
14. O lançamento da CF pode ser feito na semana anterior à Quarta Feira de Cinzas,
com a presença da Comunidade, Autoridades, Membros de outras Igrejas Cristãs, MCS, etc. Nesta oportunidade, apresentar os Objetivos da CF e todo material catequético - litúrgico.
TRIDUO PASCAL
15. Na Missa do Crisma, dia 31 de março, quarta-feira, às 19h30 na Igreja Catedral, os Párocos devem estar acompanhados com representantes Leigos das respectivas comunidades. Todos os Presbíteros devem estar presentes para a renovação dos Compromissos Sacerdotais.
16. Na Quinta Feira Santa, no final da celebração, não há procissão solene com o Santíssimo Sacramento na Custódia ou no Ostensório. A Reserva Eucarística (que servirá para a Comunhão dos fiéis na Solene Ação Litúrgica na Sexta Feira Santa) deve ser transportada numa grande âmbula (antigamente chamada urna), coberta pelo véu umeral, até o local (capela) devidamente ornado para a reposição. O Santíssimo Sacramento não fica exposto para adoração solene, como é costume em muitas comunidades, na 1ª sexta feira do mês ou outras ocasiões.
17. A cor litúrgica para a Solene Ação Litúrgica na Sexta Feira Santa, às 15h, é a vermelha, ressaltando a realeza e o martírio de Jesus. Para a Via Sacra, procissão com a imagem do Senhor Morto ou outras celebrações, a cor é a roxa.
18. Preparar o espaço litúrgico para a Solene Vigília Pascal, “mãe de todas as vigílias”. O Círio Pascal ornamentado deve permanecer junto ao Ambão, e ser aceso em todas as celebrações do Tempo Pascal, apagado solenemente na Missa vespertina do Domingo de Pentecostes, levado para junto da Pia Batismal e ser aceso nas celebrações do Batismo e Crisma.
19. No tempo da Quaresma e da Páscoa, para a bênção final, aproveitar as Orações sobre o povo e as Bênçãos próprias do tempo litúrgico (Cf. Missal Romano, p. 531 e pp.521-523).
Façamos da Quaresma, uma verdadeira participação no mistério pascal de Cristo. Sofremos com Ele para participar de sua glória e sentir, na vida, a alegria de sua Ressurreição (cf. Rm 8,17).
Dom Sérgio Aparecido Colombo
Bispo Diocesano
“Como aquele que serve”