Quaresma e Campanha da Fraternidade
Nosso Bispo Diocesano, Dom Sérgio Aparecido Colombo,
escreve sobre a Quaresma e a Campanha da Fraternidade 2011:
Quaresma e Campanha da Fraternidade – A defesa da Criação.
Irmãos e Irmãs!
A Igreja inicia a caminhada para a Páscoa, acontecimento mais importante da vida cristã, e ponto alto do Ano Litúrgico. Toda a Quaresma, revitalizada a cada ano com a Campanha da Fraternidade, torna-se um tempo privilegiado para retomar o caminho com Jesus, renovar a confiança no seu amor, que tem como ápice a entrega da vida na cruz, para redenção do mundo. A Quarta-Feira de Cinzas marca este início pedindo arrependimento, perdão pelos pecados e a graça da conversão para a construção de novas relações: pessoais, sociais e com toda a natureza. “Eis agora o tempo favorável por excelência. Eis agora o dia da salvação” (2Cor 6, 2b).
O apelo à conversão, proposto pela Quaresma e Campanha da Fraternidade de 2011, apresentam à comunidade cristã e a toda a sociedade, a questão do aumento da temperatura na terra, conhecido como aquecimento global, e as conseqüentes mudanças climáticas, com risco de sobrevivência para o planeta. Alguns membros da comunidade científica vêem a questão como processo natural, outros a vêem como conseqüência do atual modelo de desenvolvimento e, portanto, o ser humano como agente corresponsável. Faz-se necessário repensar tal modelo, para que se equacione eficiência econômica, equidade social e equilíbrio ecológico, tendo como centro das relações o ambiente e o ser humano. Como uma das questões mais discutidas no momento atual, com preocupações e conseqüências que já se fazem sentir, uma das exigências para a reversão da situação, se assim podemos dizer, está na redução da emissão de dióxido de carbono – CO2 e outros gases de efeito estufa, sobretudo, da parte de países industrializados, se de fato queremos preservar a vida do planeta, da qual somos parte. Embora o texto base não faça referência explícita, sabemos que outras causas contribuem para uma compreensão mais ampla a respeito da elevação da temperatura na terra, tais como as de ordem astronômica: a influência do sol, movimento do eixo da terra e as de ordem geológica: os vulcões, que atualmente são mais de 1500 ativos, em todo o mundo, e o próprio magnetismo, entre outras. O que não é correto é alarmar e aterrorizar as pessoas diante de situações, que em princípio são naturais. É preciso sim, estarmos preparados para as transformações que são inevitáveis. Repensar por exemplo, o binômio produzir – consumir em relação à natureza, sempre mais agredida, é urgente, não duvidamos.
Em se tratando do Brasil, o desmatamento e as queimadas são responsáveis em 50% pela emissão de gases de efeito estufa; mas é preciso considerar que o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo com 47%, enquanto nos países desenvolvidos é de 7%. O uso do combustível – Biodiesel permite reduzir em até 75% a emissão de CO2. Se queremos viver uma sustentabilidade real, impõe-se a diminuição do supérfluo, das desigualdades com conseqüente geração de bem estar para todos. É verdade, também, que a natureza não suporta mais ser explorada. A crise ecológica atual é, antes de tudo, uma crise ética, moral, de valores, e pede mudança de comportamento, onde conversão significa: cuidado e compromisso com a vida e a criação.
A Igreja, servidora do Reino, pede que nos voltemos para o Deus da vida que, concluindo a obra da criação “viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Na perspectiva da grande “solidariedade cósmica” está o homem como parte mais importante da criação, cujo senhorio deve ser o de “reconhecer o resultado maravilhoso da intervenção criadora de Deus e que pode responsavelmente se servir para satisfazer suas legítimas exigências materiais e imateriais – no respeito dos equilíbrios intrínsecos da própria criação, conservando sua vocação de guardá-la e cultivá-la” (Bento XVI – “Caritas in Veritate” – sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade, n. 48).
Aprendendo do Senhorio do criador, o ser humano colaborará para resgatar a criação como fonte de bênçãos, não de maldição. Ontem, hoje e sempre é sua função ordenar, cultivar, cuidar e não ocupar o lugar do criador ou se comportar como se Ele não existisse. É o desafio que permanece desde a origem da criação, quando o homem com suas leis e critérios auto-suficientes não foi capaz de preservar o justo e solidário relacionamento humano com o universo, considerando-o território do Sagrado.
A CF 2011 colabora para a compreensão da criação como obra de Deus, com o ser humano e para o ser humano; faz vislumbrar a harmonia entre homem e mulher, animais, água, terra, plantas e o próprio trabalho como dom do criador. Permanece viva a esperança em Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte, primogênito de toda criatura: “por Ele e para Ele todas as coisas foram criadas. Ele existe antes de tudo e tudo Nele subsiste” (Cl 1,16b-17). “Nele, no fim dos tempos toda criação será levada à sua plenitude” (Ef 1,9-10).
A solidariedade que muitos podem praticar, como se tem visto nos últimos tempos diante das catástrofes naturais, não é suficiente. É preciso fraternidade – ser irmão, e isso é imperativo de nossa fé cristã. O que devemos fazer? Solução tecnológica parece que temos: por exemplo, o carro a álcool, entre outras; solução comportamental também, por exemplo, a educação para jogar o lixo na lixeira, não no chão, na rua, no rio, no mar, no terreno baldio. Sabemos que os maiores problemas ambientais do Brasil estão no esgoto não tratado, no lixo não reciclado, na falta de moradia digna... Aprender a viver juntos, sob o mesmo teto, sob o mesmo céu, próximos à terra e deixar filhos melhores para o nosso planeta, é o que podemos fazer entre tantas coisas.
Lembremos sempre o que “Deus disse a Noé e a seus filhos: Eu estabeleço a minha aliança com vocês e com os seus descendentes, e com todos os animais que os acompanham: aves, animais domésticos e feras, com todos os que saíram da arca e que agora vivem sobre a terra” (Gn 9,9-10).
Nesta Quaresma, deixemo-nos educar para preservar e respeitar a criação, tendo como centro a PESSOA HUMANA, na certeza da presença amorosa de Deus em todas as suas criaturas.
Dom Sérgio Aparecido Colombo
Bispo Diocesano