Dom Sérgio Aparecido Colombo, escreveu um artigo sobre o mês da Bíblia

09/09/2010 14:19

 

Voz do Pastor: A Sagrada Escritura

Dom Sérgio Aparecido Colombo

Segunda-feira, 06 de Setembro de 2010

D. Sérgio

                                    A Sagrada Escritura.

 

                                           Irmãos e Irmãs!

                                            O mês de setembro na Igreja do Brasil é conhecido como o mês da Bíblia, que tem como objetivo lembrar a importância do conhecimento, da contemplação e da vivência das Sagradas Escrituras. Desde o Concílio Vaticano II (1962 – 1965), a Bíblia vem ocupando espaço significativo na vida dos cristãos e em nossas comunidades, chamadas à “leitura e estudo dos livros sagrados para que seja difundida e glorificada a Palavra de Deus (2Ts 3,1) e que o tesouro da revelação confiado à Igreja cada vez mais encha os corações dos homens” (Dei Verbum – Sobre a Revelação Divina, no 26).

                                             A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil propõe para o ano de 2010 o estudo e a meditação do Livro de Jonas, com a finalidade de alargar os horizontes das comunidades cristãs, tornando-as mais missionárias, acolhedoras, e misericordiosas.

                                             No final do século V aC, o Povo de Israel tinha adquirido consciência dos desafios que tinha enfrentado em sua caminhada histórica, dos prejuízos contados diante dos ataques dos inimigos e questionava por que Javé era tão tolerante com os ímpios. Após o exílio na Babilônia (580 – 530 aC) Israel começou a fechar-se em si mesmo, como que num “exagerado nacionalismo exclusivista” e a alimentar o ódio em relação aos que não pertenciam ao Povo Eleito. É a partir desse contexto que somos chamados a compreender a proposta do livro de Jonas, chamado por Deus para anunciar sua misericórdia para um dos piores impérios e um dos maiores inimigos do Povo de Deus – os Assírios cuja capital era Nínive. “Quando o livro de Jonas estava sendo escrito, a cidade de Nínive já havia sido destruída, há quase três séculos (foi arrasada pelos babilônicos em 612 aC). Mas essa grande capital da Assíria entrou para a história do povo da Bíblia como símbolo do pecado e da violência. Representava o paganismo, igualada apenas às lendárias cidades de Sodoma e Gomorra (Gn 13,13)”. Deus não queria condenar a grande cidade apesar dos muitos pecados que existiam nela. O Senhor queria salvar Nínive e por isso enviou Jonas que resistiu, tentou fugir de navio para Társis, foi lançado ao mar, ficou três dias no ventre de um grande peixe, e encontrando misericórdia foi salvo. Convencendo-se da missão, acolheu uma segunda vez a ordem do Senhor Javé: “Levante-se e vá a Nínive, a grande cidade, e proclama-lhe o que vou dizer a você...” (Jn 3,2). A grande cidade acolheu a mensagem do profeta que dizia: dentro de três dias Nínive será destruída. Todos fizeram penitência, do maior ao menor. O Senhor teve misericórdia e todos foram salvos do castigo. Os três dias necessários para atravessar a cidade e os três dias e três noites no ventre do peixe simbolizam o tempo da salvação ou ação de Deus em favor daqueles que lhe obedecem.                                     

 

                                              No livro de Jonas, Nínive é uma cidade simbólica, cidade da injustiça, símbolo do mundo pagão. Qual mensagem o livro revela? Que o amor e a ternura de Deus não são exclusivistas. Para Jonas, Javé que deveria ser severo e implacável o tornou instrumento de salvação para os pagãos (ninivitas) e inimigos do seu povo. A lógica de Deus não confere com a lógica humana e mais, Ele age com severidade com Israel e com graça e misericórdia para com os ímpios. Estes não podem ficar fora do seu projeto salvador.

                                              E nós, comunidade cristã, o que devemos fazer? Anunciar com convicção que Deus salva não apenas um povo por melhor que seja, mas toda a humanidade. Isso deve ser motivo de alegria e tornar a comunidade sempre mais missionária, porta voz dessa notícia que muitos ainda não receberam. Violência, injustiça e tantas formas de exclusão continuam ameaçando nossas cidades como em Nínive. Sem privilégio algum a Igreja, comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus é chamada a percorrer o mesmo caminho de Jonas, ir ao encontro das pessoas, na cidade, na periferia, nos campos, e como ele, na obediência e na fidelidade ao Senhor, compreender a grandeza e a urgência da missão que consiste em anunciar o Evangelho da vida, capaz de gerar reconciliação e fraternidade entre todos. Que nossos grupos, movimentos e pastorais desacomodem-se e abracem o desafio de evangelizar a partir do lugar onde se encontram. Hoje o Senhor nos envia.  Não ofereçamos resistência. Deixemo-nos conduzir por Ele.                                                                           

                                                                        

                                                       Dom Sérgio Aparecido Colombo

                                                                   Bispo Diocesano