A Musica Liturgica

15/03/2010 00:17

 

Estudos da CNBB. A música Litúrgica no Brasil, nº79.

 

1.Como Vai a Música Litúrgica entre nós?

            O grande anseio do Concilio é que todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciência e ativa participação das celebrações litúrgicas, que a própria natureza da Liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, “geração escolhida, sacerdócio régio, gente santa, povo da conquista” (1Pd 2,9). É nesse contexto ideal que devemos situar o canto de nossas comunidades cristãs ao celebrarem sua fé, e consequentemente o exercício dos ministérios musicais.

            A experiência universal prova que o canto cria comunidade, liga as pessoas entre si, e mais eficazmente as põe em sintonia com o Mistério, com Deus. Podemos verificar que no Brasil, em nossa Igreja Católica, dentro do processo da renovação litúrgica, vem se fazendo grande esforço para criar uma musica na linguagem do povo, enraizada tanto na tradição bíblica-liturgica, quanto na nossa experiência eclesial latino-americana e brasileira e na cultura musical do nosso país, na variedade cultural de suas regiões.

            Muitas são as contribuições nos últimos anos para o aperfeiçoamento da música litúrgica no Brasil:

·         Em nível regional e diocesano, anualmente se organizam “cursos de Canto Pastoral e Liturgico.

·         Desde 1992, O curso Ecumenico de Formação e atualização Litúrgico musical ( CELMU)

·         A Campanha da Fraternidade, desde 1964, tem organizado, anualmente concursos que possibilitam a criação de letras e músicas sobre determinado aspecto social da realidade brasileira

·         Grande variedade de publicações, nestes últimos anos aos quais dois merecem especial destaque: os quatro volumes do Hinário Litúrgico da CNBB e o Oficio Divino das Comunidades (ODC)

·         Cada vez mais tem se dado importância à expressão simbólica e corporal dos gestos, encenações e danças ligadas ao canto.

·         A introdução de mantras (refrões contemplativos)

 

Observa-se também algumas lacunas a serem preenchidas, problemas que nos desafiam, tais como:

·         Celebrações em que grupos executam sozinhos todos os cantos.

·         Assembléias que são passiveis e desinteressadas pelo canto.

·         A postura de alguns animadores e animadoras de canto que nem sempre tem propiciado um clima de oração e interiorização.

·         Missas dos chamados “meses temáticos”

·         Descamba-se por exageros individualistas, intimistas e sentimentalistas, muito “eu” e muito “meu”, desvirtuando-se a dimensão comunitária da fé.

·         Exagero militantista: cantos que pregam com insistência a luta pela justiça social, a superação dos problemas ecológicos e econômicos, mas que nesta pretensão, empobrecem a experiência espiritual, ao não cultivar suficientemente as razões da fé.

 

 

2. Nossas Referencias, nossas fontes de inspiração, nossos modelos.

 

A Importância da Música

Por que se canta numa celebração litúrgica? Por que o canto, a música, a dança, têm ai tamanha importância?

No momento da celebração da fé, a comunidade cristã, sobretudo através do canto, a comunidade cristã testemunha a sua esperança da maneira mais solene e vibrante, ao proclamar, como assembléia sacerdotal, as obras maravilhosas daquele que nos chamou das trevas para a sua luz maravilhosa (1Pd 2,9). Nesse sentido, podemos entender que os cantos brotam das profundezas do ser...celebrações e cantos que se enraízam nas emoções e aspirações profundas dos que desejam a vida (Sl 34,13), dos que tem fome e sede de justiça (Mt 5,6), ao encontro das quais o Senhor vem. (Lc 12,43).

O canto é sinal de alegria. Mas de onde vem essa alegria que leva a cantar? Ela nasce de um sentimento de plenitude do ser vivente que se expande sem amarras. Diante da beleza que o arrebata, o ser humano deixa subir de sua alma um grito de admiração. Ele sai de si mesmo com o som de sua boca, para se deixar carregar até o objeto de louvor.

O canto pode exprimir:

·         Adoração

·         Ação de graças

·         Prece suplicante

·         Unidade

·         Resistência

·         Festa

A música, pela suavidade da melodia, pela harmonia dos acordes e dos arranjos instrumentais, pela beleza dos solos, pelo empolgamento dos coros, encanta. Pela força dos sons e do ritmo, ela provoca a participação, ao mesmo tempo, em termos de emoção, de animação e de unaminidade, ajuntando-nos e nos projetando na imensidão no mistério de Deus.

            Podemos exemplificar pelo salmo 46: Deus é nosso refúgio e nossa força, defensor sempre alerta nos perigos. Por isso não tememos se a terra vacila, se as montanhas se abalam no seio do mar; se as águas do mar estrondam e fervem, e por sua fúria estremecem os montes.O senhor dos exércitos esta conosco, nossa fortaleza é o Deus de Jacó.

            O canto, a música, a dança, continuarão sendo, sem dúvida, em todos os tempos e culturas, a expressão mas vibrante de festa e de comunhão de um povo.

            Como vai dizer Santo Agostinho em um dos seus sermões: “cantar é próprio de quem ama e esta feliz”

 

Eu fico com a pureza da resposta das crianças:

É a vida, é bonita e é bonita!

Viver e não ter a vergonha de ser feliz,

Cantar e cantar e cantar a beleza

De ser um eterno aprendiz!...

Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será,

Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita!

                                                                       (Gonzaguinha)

 

A música Litúrgica na Igreja Hoje

 

            A constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, se afirma com evidente empolgação: A Tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária e integrante na Liturgia solene. Quatro anos mais tarde, a Instrução da Sé Romana Musicam Sacram, de 1967, levando em consideração as diretrizes conciliares e fazendo eco à mais antiga tradição, assim se expressa: A Ação litúrgica reveste uma forma mais nobre quando é realizada com canto, cada ministro exercendo a função que lhe é própria, e o povo participando.

            A partir do Concilio, algumas intuições e critérios vão espirando e provocando a renovação da musica litúrgica:

  • Liturgia é a celebração do Mistério Pascal realizada pelo povo de Deus.
  • Canto e música, antes de ser obras codificadas, é gesto vivo, experencial.
  • Canto é música participam da dimensão sacramental da liturgia: são símbolos importantes do mistério de Cristo e da Igreja e não ornamento exterior.
  • Canto é musica estão a serviço do mistério da fé.
  • Canto e musica, partindo de bases antropológicas e do universo cultural de quem crê, devem possibilitar a expressão verdadeira da assembléia
  • Os repertórios do passado e as novas criações não devem ser visto como bens culturais, ostentado para dar prestigio.

 

 

 

 

A Música Litúrgica nos documentos da Igreja Católica latino-americana

Medellín

·         A Igreja latino americana deve dar aos artistas e homens de letras o seu devido lugar, recorrendo o seu recurso para a expressão estética da palavra litúrgica, da música sacra e dos lugares de culto

Puebla

·         Promover a música sacra, como serviço eminente que corresponde à índole de nossos povos

 

Documentos da CNBB

Documento 7. Pastoral da Música Litúrgica no Brasil.

·         Onde há manifestação de vida comunitária existe canto; onde há canto, celebra-se a vida. Por isso, no Brasil, a renovação litúrgica tem alcançado um de seus pontos mais positivos, pela criação de uma música litúrgica em vernáculo.Esta tem procurado corresponder ao sentimento e à alma orante de nosso povo...

·         O canto não é algo secundário ou lateral na liturgia, mas é uma das expressões mais profundas e autenticas da própria liturgia.

 

Orientações pastorais

Critérios de escolha

A primazia da assembléia

            Antes de mais nada, em nossas celebrações, devemos levar em consideração as pessoas. A liturgia afinal, é o lugar por excelência do encontro das pessoas humanas entre si, e das pessoas humanas com as Divinas. Muitas são as pessoas que participam das nossas celebrações:

  • São crianças, adolescentes, jovens adultos e idosos;
  • São homens e mulheres, estas quase sempre em numero maior;
  • Gente da capital ou do interior, do centro ou da periferia;
  • Gente da Amazônia ou dos pampas, do Centro- Oeste, do Nordeste, do Leste ou do Sudeste;
  • Gente de classe média, geste abastecida, gente carente, gente erudita e gente analfabeta;
  • Rostos de índios ou de africanos, rostos de europeus ou de asiáticos, mestiços;

Nesse sentido o documento de estudo vem afirmar que deve se ter especial consideração a assembléia celebrante, com suas possibilidades, sua riqueza e seus limites é a primeira preocupação de uma liturgia verdadeiramente pastoral.Portanto, as exigências e critérios de escolha devem estar relacionado sempre com a assembléia reunida e:

  • Esteja intimamente ligada à ação litúrgica a ser realizada;
  • Não usar melodias que já revestiram outros textos não litúrgicos;
  • Respeitar a sensibilidade religiosa de nosso povo;
  • Levar em conta o tempo do ano litúrgico;
  • Esteja em sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o Evangelho no que se refere ao canto da comunhão;
  • Esteja de acordo com o tipo do gesto ritual;
  • Expresse o mistério vivido de determinada comunidade, vivendo intensamente a luta, a perseguição, o martírio, a pobreza;
  • Expresse a linguagem verbal e musical, no “jeito” da cultura do povo local, possibilitando uma participação consciente.

 

Função Ministerial da Música

            Quando a assembléia litúrgica se reúne para celebrar o mistério de Cristo, ela se serve de pessoas (os diversos ministros), e de coisas ( música, flores, incenso, velas) que passam então a desempenhar um papel ministerial na celebração.

            A partir do Concilio Vaticano II, vem crescendo a convicção de que a distribuição de tarefas entre os membros de uma comunidade celebrante passou a ser regra. Por isso a insistência:

Nas celebrações litúrgicas, cada um, ministro ou fiel, ao desempenhar a sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete.”( SC)

O autor (letrista)

            Em se tratando de Liturgia cristã, a música esta a serviço da letra. Seu papel é cantá-la, realçando através da melodia, do acompanhamento instrumental e da dança, seus conteúdos e sua poesia.

Os salmos e cânticos Biblicos são, a melhor escola de oração cristã e o melhor modelo de letra.

Outra referencia elementar é a função especifica do canto ao longo da preparação. O autor ou letrista litúrgico precisa estar a par da programação ritual, do significado de cada momento, do papel que cada canto terá em cada momento da celebração.

O Músico (compositor)

            O compositor deve submeter a própria composição à avaliação de outros músicos litúrgicos, bem como utilizá-los previamente.Conforme sua função ministerial, uma música será tanto mais litúrgica quanto mais se integrar à parte da celebração em que se deve ser executada. Portanto, a composição deve levar em conta as exigências inerentes à função ministerial dos diversos cantos.

Presidente da Celebração

            Quem preside a celebração tem plena liberdade quanto ao canto de uma ou mais partes da celebração que é de sua competência cantar. Certamente, a oração Eucaristica se tornaria o ponto culminante da celebração, se os presidentes cantassem o Prefácio ( seguido do Santo cantado).

            Quem preside deve dirigir-se à assembléia, cantando sempre quando tiver capacidade para tal; quando a própria assembléia puder responder de forma mais unânime e viva; quando for capaz de solicitar e acolher as sugestões dos membros da comunidade, a respeito da qualidade de seu canto.

Animador ou animadora de canto

            Cabe ao animador (a):

  • Orientar a escolha dos cantos a ser cantados na celebração;
  • Dosar o repertório, promovendo o equilíbrio entre a tradição e novidade, repetição e variedade;
  • Animar o canto da assembléia, de modo que a faça vibrar a assembléia;
  • Encontrar com a sua sensibilidade a expressão corporal mais adequada a cada tipo de canto, incentivando a assembléia com naturalidade e simplicidade, a expressar-se em gestos, aplausos e dança, em certos momentos da celebração.

 

O (a) Salmista

            Durante o canto da Assembléia, o (a) salmista cante sempre a melodia principal, evitando uma segunda voz ou contracanto, a fim de não dificultar o canto na assembléia. Não se deve, por hipótese alguma, admitir “ cantores profissionais” contratados apenas para dar “show” na celebração. Tal atitude desmerece totalmente o trabalho das equipes de celebração.

 

Coral

            A função do coral não foi desmerecida após o Concilio Vaticano II, muito pelo contrario, o incentivou. Portanto, é função ministerial do coral, enriquecer o canto do povo, dar condições de espaço para descanso para a fomentação da contemplação. Enfim, dar um colorido mais próprio a cada uma das celebrações do ano litúrgico.